terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Pressentimento, medo da perda ou pessimismo?


Quando descobri que estava grávida, em outubro, explodi de tanta felicidade! Quis anunciar ao mundo que seria mãe, quis ver a surpresa no rosto do meu marido, quis fazer meus pais felizes com a notícia. Até consegui segurar a onda por alguns dias – afinal, começo de gravidez é sempre delicado e eu estava de apenas três semanas –, mas em pouco tempo todos já estavam sabendo. O que não significa que eu não tivesse medo de perder o bebê. Claro que isso passou pela minha cabeça, muitas vezes, muitas mesmo. E até hoje fico na dúvida se passou mais do que deveria...  

No começo eram as cólicas das primeiras semanas. Depois as tristes histórias que eu lia na web. Vários episódios sobre perdas. Eu sabia dessa possibilidade e tinha muito medo dela. Mas sempre me acalmava o fato de não ter tido nenhum sangramento, em nenhum momento da gravidez.  O que mais me apavorava, na verdade, era sentir poucos sintomas da gestação. Meus seios estavam enormes, meu olfato e paladar aguçadíssimos, mas quase não tinha enjoos ou sono demasiado. Na verdade, não tinha desconforto algum. Seria isso um mal sinal? Pouco hormônio? “Besteira, eu nunca senti nada e deu tudo certo”, me diziam várias mamães conhecidas. Mesmo assim, eu ficava ressabiada.

O tempo todo eu procurava, na internet, artigos sobre como ocorrem as perdas no início da gestação. Descobri que a maioria acontece por volta da sétima semana e começa com sangramento. Eu não tinha sangramentos, então respirava aliviada (mas sempre com um pé atrás). Quando superei a sétima semana, comecei a acreditar mais que não entraria na estatística das perdas. Afinal, eu não tinha qualquer motivo para acreditar que minha gravidez não estava bem. Mas a pulga nunca saiu de trás da orelha. Todas me diziam “aproveite essa fase, pois passa muito rápido”. Mas tudo que eu queria era que os três primeiros meses passassem rápido mesmo, para ver se esse medo da perda diminuiria.  

Quando descobri a gravidez, meu bebê era apenas um “corpo lúteo”. A primeira ecografia foi na quarta semana e ele ainda estava se fixando, nem era considerado embrião. Apenas na próxima ecografia, dali um mês, eu poderia vê-lo melhor e ouvir seu coraçãozinho. Na véspera desse dia esperado, foi o meu coração que bateu apertado. Não sei se era o medo de receber uma notícia ruim, ou pressentimento de algum tipo. Na verdade estava tudo bem comigo, nenhum sangramento, nenhuma dor, mas eu sentia falta de perceber “algo mais”. Eu sei, claro, que não se sente o bebê nessa fase. Mas eu tinha a impressão de que os sintomas da gravidez estavam todos na parte superior do meu corpo (nos seios, no olfato, no paladar, na cabeça que doía).  É duro dizer isso, mas eu já não sentia vida no meu ventre, como senti nas primeiras semanas. Naquela noite fui dormir mais cedo, pois nada me desviava do medo da ecografia que viria e isso estava me perturbando. Nem a possibilidade de ouvir o coração do bebê pela primeira vez me distraía da preocupação. Perguntei várias vezes ao meu marido: “Será que está tudo bem com o bebê?”, “Será que esse bebê está bem?”.

No dia seguinte acordamos cedo, fomos para a clínica e ficamos aguardando na recepção. Enquanto conversávamos, eu disse a ele: “Não devemos providenciar nada para o bebê antes de completarmos três meses de gravidez. Tudo pode acontecer”.  Trocar de carro, de apartamento, comprar carrinho, cadeirinha, tudo deveria ficar para depois, na minha opinião. Chegou a nossa vez, entramos no consultório e já nos primeiros segundos da ecografia o médico parecia intrigado. Soltou frases soltas como “sete semanas?” – eu estava de dez –, “vamos ver o que aconteceu aqui...”, “hum...”, até que veio aquela inesquecível: “É, infelizmente não se desenvolveu”. Meu marido, que nunca tinha pensado na possibilidade de a gravidez não ir para frente, se desesperou. Eu engoli o choro, fiz meia dúzia de perguntas ao ecografista e fui me vestir. Para mim, todas as perguntas teriam respostas, menos uma: eu senti que perderia o bebê ou fui pessimista o tempo todo? Acho que nunca saberei... 

Leia também: O que vem depois da triste notícia?

3 comentários:

  1. Oi Mirela, pensava que só eu tivesse esses pensamentos, estava receosa desde o principio, inclusive só comentei da gravidez para as pessoas mais próximas, considero o primeiro trimestre muito delicado. E também tive pouquíssimos sintomas, seios doloridos e aumentados, e algumas náuseas. Em certa altura, embora não quisesse acreditar me sentia vazia, não me sentia como no início da gestação...pela DUM estava de 08 semanas, mas o USG apresentava 06 semanas, comecei com sangramento mas fiz o exame e ainda tinha batimento, 02 dias depois apesar do repouso e da medicação, o sangramento aumentou e o indesejável aconteceu...

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  2. Lamento sua perda e sua dor, Detanioka. E espero que você possa voltar aqui em breve, para contar sobre o sucesso de uma próxima gradivez.
    Obrigada pela leitura!

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  3. Mirela, acabo de ter um aborto retido e ao ler essas palavras até parece que eu as escrevi. É exatamente o que eu penso, será que fui pessimista demais e isso atrapalhou o desenvolvimento do meu bebê? Seria um pressentimento de mãe ou foi a lei da atração? Nunca vou saber!
    Nessa sua segunda gestação que graças a Deus correu bem, vc foi mais otimista?
    Espero uma resposta sua e um grande beijo!

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