quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Segunda ecografia frustrante e as mil lições de paciência

Perder o bebê me trouxe muitas lições, assim como ao meu marido. Aprendemos principalmente que, por mais que planejemos tudo direitinho, não estamos no controle. Mas nenhuma lição está sendo tão dura quanto a da paciência! Após o diagnóstico do aborto retido, não bastassem os 15 dias esperando o organismo expelir e mais os 15 dias tomando Methergin após a curetagem, uma ecografia mostrou que eu ainda tinha restos ovulares. Fui para a consulta seguinte já me preparando para uma nova cirurgia. E nem medo disso eu sentia pois, depois de ter enchido a minha cabeça sobre a tal neoplasia trofoblástica gestacional, eu tinha perdido a paciência e tudo que queria era acabar com essa história de uma vez, fosse como fosse.

Porém, meu médico tratou uma segunda curetagem como plano B. Não queria fazer a cirurgia novamente em tão pouco tempo. Então me propôs um tratamento alternativo, com uso de hormônios. Em resumo, durante sete dias tomei uma bomba hormonal (equivalente a três vezes a quantidade de anticoncepcional que uma mulher consome normalmente), com o objetivo de induzir um sangramento intenso que pudesse trazer consigo os restos ovulares, vencendo o "vaso nutridor" que os segurava fortemente no meu útero. "Se prepara, porque vai doer e virá muito sangue", alertou o médico. Mas o maior desconforto, mesmo, foi causado pelo baque hormonal. Inchei, vomitei, tive alterações de humor, essas coisas. Aí foram mais dez dias de espera (haja lição de paciência!), até que veio o grande sangramento, nem tão assustador quanto eu estava esperando. Cinco dias depois, por orientação médica, voltei a tomar o anticoncepcional normalmente. "Anticoncepcional nessa altura? Mas eu quero engravidar de novo quando tudo isso acabar!", pensei. Mas antes que eu questionasse, o médico explicou: "Seu útero precisa descansar". Eu eu entendi: "Você definitivamente vai ter que aprender a ter paciência com a vida". E assim está sendo. Na marra, estou aprendendo.

O combinado com o médico era de que, alguns dias após "a grande menstruação", eu faria uma nova ecografia para sabermos se o tratamento funcionou. E nesses dias exercitei minha mente. Eu precisava aprender a seguir a vida, ser feliz e esperar ao mesmo tempo. Mas não é nada fácil levar as outras coisas (atividades profissionais, encontros com os amigos, casamentos, festinhas, sorrisos) como se você não estivesse morrendo de pressa para que aquele tempo passasse logo. Eu tentei (e incrivelmente consegui) me manter otimista, até que chegou o dia da esperada segunda ecografia...

Na hora H, decidi que não queria que meu marido fosse comigo. Sim, eu gosto de dividir as coisas com ele, mas ele também estava ansioso e sua presença me deixava ainda mais nervosa. Não sei ao certo até agora, mas talvez haja aí um sentimento de culpa, meu, por estarmos passando por tudo isso. É idiotice, eu sei, mas talvez seja real. Não sei dizer. Enfim, fui sozinha e pelo caminho tudo que pedi foi que eu não saísse mal daquela clínica. Que, independentemente do resultado, eu saísse bem, forte, pronta para o que der e vier. E assim foi: o tratamento não foi suficiente, os restos ovulares haviam diminuído, mas um pequeno resíduo continuava ali, seguro pelo incansável "vaso nutridor". A parte boa é que o meu mantra do caminho teve efeito. Eu não me abalei e não enchi o ecografista de perguntas desesperadas. Fiz apenas uma: "Dr., meu médico está de férias, volta em 20 dias, e não sei se devo comunicá-lo desse resultado ou aguardar seu retorno". Ele respondeu: "Pode aguardar. Não há emergência no seu caso". 20 dias! Dá para acreditar em mais essa lição de paciência?! Prometi a mim mesma que não atrapalharia as férias do médico, que viveria mais esse período feliz e seguindo a rotina e que, principalmente, não fuçaria na internet sobre esse tipo de caso. Tirando essa parte sobre fuçar na internet, acho que consegui cumprir bem a promessa.

Assim que o doutor voltou das férias fui ao consultório, certa de que dessa vez ele marcaria a curetagem. Porém, entre o dia da ecografia e o da consulta eu havia menstruado e ele achou por bem repetir o exame antes de agendar o procedimento (vai que dessa vez o sangramento limpou tudo!). Mas, quando fui marcar o exame, me disseram que o melhor era fazê-lo entre o quinto e o oitavo dia após a menstruação. Isso já tinha passado e, sim, acreditem, eu tive que esperar mais 15 dias até a próxima menstruação - que foi intensa, longa e muito doída. E aqui passo a contar minha história em tempo real. Os posts anteriores foram sempre escritos tempos depois do ocorrido, mas agora escrevo a vocês lá de dentro do olho do furação: amanhã, 22 de fevereiro, farei a minha terceira ecografia. E, confesso, minha sensação é de que terei que enfrentar mais alguma grande lição de paciência. Provavelmente por causa das fortes cólicas da última menstruação, sinto que esse ciclo ainda não se encerrou...

Leia também: Terceira ecografia frustrante: nódulo polipóide miometrial

4 comentários:

  1. Mirela, realmente QUE PROVAÇÃO! Sinceramente não sei o que te dizer além de que estou torcendo absurdamente desde ontem a noite quando li seu post que sua US lhe traga boas notícias. E que se mantenha firme. É notável que houve um imenso aprendizado. Confie em Deus!
    Cecilia (anonimato revelado, é meu nome mesmo).

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  2. Obrigada pela torcida, Cecília! Estou escrevendo sobre essa última ecografia - minha desconfiança se confirmou, a odisseia ainda não terminou para mim =(
    Vou publicar ainda hoje.
    E você? Como está? Algum sinal de expulsão?
    Beijos.

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  3. Mirela, muito obrigada pelo seu blog! Me identifiquei muito você e sua forma de pensar e o blog esta me ajudando muito a passar por essa fase horrível. Faz umas 3 semanas que perdemos nosso bebezinho, eu estava com quase 10 semanas, tive um aborto retido. Nosso bebe foi muito desejado, planejado e esperado, mas, infelizmente, não foi dessa vez. Então eu estava por aí, buscando situações parecidas com a minha e tentando entender melhor isso que estou passando e sentindo. Mesmo com muita gente contra, eu optei por esperar e não fazer a curetagem. O sangramento começou faz 3 dias e as dores são tenebrosas, já estou tomando buscopam, mas hoje retorno ao médico para ver até que ponto é normal toda essa dor. Mas isso tudo faz a gente repensar muitas coisas mesmo, não só da gravidez, mas da vida...com certeza, também cresci muito e sou uma pessoa diferente após essa experiencia. Bom, vou ficar torcendo por você e para sua recuperação completa! Abraço, Cris.

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    1. Cris, obrigada por suas palavras e relato.
      Espero que estejas bem.
      Beijos

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